quinta-feira, 11 de junho de 2009

Recordações,tempo e amigos

Os anos vão passando. Umas vezes parecendo que os dias se arrastam, mas na maior parte dos casos, galgando terreno na nossa existência. Esta é uma constatação prática sobre a vida da qual tomamos consciência e, nunca, tão cedo quanto gostaríamos. Vivemos com a urgência do tempo. Não temos tempo para nós, para tudo o que desejamos fazer e viver. Não temos tempo para estarmos com quem gostamos. Recordamos esse tempo, essencialmente, porque tínhamos tempo despreocupados. Tempo para viver, para conviver, tempo até, para nos fartarmos do próprio tempo.

Entretanto de repente, os dias sucedem-se vertiginosamente, de fim-de-semana em fim-de-semana. “O tempo passa mesmo rápido, já estamos no Natal”, “O tempo passa mesmo rápido, já estamos novamente na Primavera. Não tarda chega o Verão e a praia.”, “Incrível, o Verão já está chegando ao fim.”. Por vezes acontece-nos ocupar demasiado tempo falando do tempo que não temos. E, entretanto, perdemos mais algum tempo, desperdiçando assim minutos, horas, dias. Em bom tom é possível que, dentro de alguma razoabilidade, por vezes se ganha no médio prazo, algum tempo, refletindo sobre tempos passados. Olhando para o presente, reorganizando ideias, objetivos, posturas.

Vem tudo isto a propósito da dificuldade de, nos dias de hoje, conseguirmos estar com amigos que nos são queridos, que foram peças constantes nas nossas vidas no passado e no presente que não convivemos tanto, pelos mais diversos motivos: porque casaram, porque têm filhos, porque se mudaram para longe, porque deixaram de ter disponibilidade de espírito para continuar . Por tudo isto e por muitos mais motivos, quebra-se uma certa rotina (mais uma vez, a rotina!), perdendo-se o hábito dessa convivência , tantas vezes, como desculpa, por suposta falta de disponibilidade, de tempo.

Mas analisemos um pouco mais esta questão: será que é assim tão plausível usar e abusar do argumento da falta de tempo? Será que, se nos debruçarmos sobre a análise da nossa vida, não vamos constatar que o tempo existe, mas está ocupado com certos comportamentos rotineiros, certas “obrigações” que não são assim tão obrigatórias quanto isso? Será que, na verdade, e bem lá no fundo, não sabemos, muitas vezes, que ao usarmos a falta de tempo ou disponibilidade, não estamos caindo em uma armadilha de nosso pensamento? E quase de forma consciente, porque mais confortável? O nosso mundo, inalterado, constante. Para mim, pelo menos algumas vezes, tenho a certeza disto já ter acontecido, o que naturalmente não me mesmeriza, também não me deixa propriamente feliz e orgulhoso!

Este fim-de-semana estive com pessoas que marcaram diferentes fases da minha vida, mas com as quais não tenho estado tanto quanto queria.E foi muito positivo. Acho que todos percebemos depois de um longo período, descobrir que as relações de proximidade e cumplicidade, a sintonia de pensamentos, com amigos, continuam presentes. Descobrir que, entretanto, nada disso modificou a amizade. Ficou, ali, inalterada, numa estante livre de poeiras, simplesmente à espera de ser novamente utilizada. E aí, confirmamos mais uma vez, que estão ali alguns dos nossos verdadeiros amigos. É a prova dos nove.

Vemos também como velhos amigos são espelhos apontados à nossa vida. Com eles, com o seu olhar, as suas expressões, o seu carinho, vemos perfeitamente aquilo que fomos, quase como se recuássemos um pouco no tempo. Ao constatarmos as suas mudanças, as suas novas posturas (embora sempre presente a sua essência), para o bem ou para o mal, somos obrigados a olhar para o que fizemos da nossa vida. Muitas vezes, é se valer disso mesmo que fugimos. Quando a nossa vida não está em condições, embora, há quem desmistifique essa ideia, essa pessoa é, precisamente, um bom amigo.

Quanto a mim, foi bom, aliás, muito bom pelo convívio do fim-de-semana.

Adryana Ribeiro - Saudade Vem



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